De mãe para filha…

Ela é filha daquela juíza que lutou muito para preservar seu papel de parede em seu hall social (no causo Papel de parede, publicado em 03/08/2017, categoria Administração). E também mora em um condomínio, nos mesmos moldes do de sua mãe…

E eis que ela chegou atrasada em casa, vindo do trabalho, com o compromisso de, logo mais, participar do jantar de confraternização de sua empresa.

Assim, tinha ainda que subir até o apartamento, tomar um banho e trocar de roupa, como se isso fosse tomar apenas alguns minutos de seu já escasso tempo.

Para completar, a assembleia, ali no salão de festas, próximo dos elevadores, estava só começando…

É!… Aquele dia estava sendo para ela, efetivamente, ‘um dia de cão’! Nada deu certo: choveu pela manhã, o que a impediu de fazer sua caminhada matinal no calçadão; no escritório, a rede e a telefonia caíram a tarde toda e, assim, perderam-se contatos e contratos.

Quando desceu à garagem, ainda na empresa, o pneu traseiro do lado do motorista estava furado. Depois, teve que enfrentar aquele trânsito. “Ah, que trânsito…” – pensou, pensou, mas não achou nenhum termo adequado para qualificá-lo.

E, nos semáforos, ainda teve que aguentar o assédio daquele monte de vendedores, oferecendo de tudo, o tempo todo. Mas, por que isto a incomodou tanto? Ah, sim! O ar condicionado do carro simplesmente parou de funcionar. Aí, não teve como, o vidro precisou ficar aberto.

Não bastasse, nem deu tempo dela passar na loja de bebidas, para comprar o presente do gerente comercial, que tinha tido um desempenho espetacular naquele bimestre.

“Vejo na adega de casa, mesmo. Pego alguma coisa por lá e pronto!” – pensou ela.

E ali continuava ela, no hall, esperando o elevador…

Então, resolveu dar só uma espiadela na assembleia, quando viu seu desafeto – aquele seu vizinho ao lado que ‘tirava seu sossego’ com intermináveis barulhos – falando exatamente sobre problemas recorrentes no condomínio, dentre os quais os barulhos de que ele era vítima, etc., etc.

Quando se deu conta, estava lá na frente, junto à mesa.

A discussão, então, começou ferrenha! Um não deixava o outro falar… Alguém, da mesa, até tentou conter os ânimos… Em vão!

Ela tirou um de seus sapatos e tascou na cara do seu adversário, enfiando o salto em sua bochecha…

Não se sabe se conseguiu ir à festa de sua empresa e nem, tampouco, se ela se lembrou de levar o presente do seu gerente…

skyline sp (15)

A “arte” de se conviver em condomínios…

Sim, é uma arte, e independe do nível cultural, intelectual, social dos envolvidos.

Incidentes, acidentes, tragédias acabam por ocorrer nas circunstâncias menos prováveis.

A ‘gota d’água’ às vezes decorre de um mero detalhe… um dia ruim, o elevador que demorou, o local da assembleia, o horário da reunião, enfim, qualquer coincidência pode propiciar um embate acalorado, cujas consequências são, literalmente, imprevisíveis.

Nesse causo o que faltou, segundo relatos, teria sido um número maior de presentes à assembleia, para reforçar a turma do ‘deixa disso’, que não teve suficiente pulso para demover os contendores daquele bate-boca.

Sobre Orandyr Luz

Consultor, articulista e palestrante, especialista em gestão condominial. Autor dos livros "Evolução Histórica do Condomínio Edilício", São Paulo/SP: Editora Scortecci, 2013, "O condomínio daquela rua - Histórias e causos nesse ambiente peculiar", São Paulo/SP: Editora Biblioteca 24horas, 2015 e "O condomínio & você - Práticas de gestão condominial", Curitiba/PR: Ed. Juruá, 2018. Ciclista, leitor, cidadão.
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